domingo, 28 de fevereiro de 2010

BANDEIRA

Em homenagem ao professor Paulo Bandeira, assassinado em 2003 no município de Satuba - AL por denunciar um desvio de verba pública que iria ser investida em educação. É assim que eles nos querem, calados. Contrariando seu querer, eis-me aqui:

Militares, parlamentares, envolvidos
Num ato ilícito
De geração em geração, coronelismo
Passam por cima da lei sem altruísmo
Mas eles são a lei num universo fictício
No convívio dos suínos eles são reis
Sempre que preciso nunca é a minha vez
Nunca é a nossa vez, não temos vez
Nada vezes nada dá nada
Tudo para os outros, nada para nós
Viva a voz, a voz de Zapata
Que desata o nós da garganta
Que desata os nós da gravata
Não há necessidade de gravata pra quem canta a liberdade
A verdade se alcança sem farda!

PAULO, NÃO DÁ BANDEIRA, NÊGO
NÃO REVELA O SEGREDO
PRO SEU FILME NÃO QUEIMAR

Ele amassa, tu bate
Ele ama Satuba

Grandes crimes, pequenas cidades
Passam batidos aos olhos da sociedade
Assassinato cometido por causa de um achaque
Por achar que prevalece a impunidade
O professor no papel de educador nos ensinou
Lute sempre a favor da verdade
Pra tocar fogo, uma denúncia:
Desvio de verba pública
Pra tocar fogo na denúncia
Um passeio pela cana-de-açúcar
Prefeito A, parlamentar X
Encheram de dinheiro os bolsos
Na sala de aula nem um giz
Pra traçar dessa miséria um esboço
Vai no esforço do formador de opinião
Preparar para a vida, educação
Vem comigo, vem
Estou do lado do bem
Qualquer dia queimam meu filme também
Mas vale a pena morrer lutando
Pelo que não vale a pena viver sem
“Não quero vingança, quero justiça”
É a melhor das alternativas
“Não quero vingança, quero justiça”
Palavras da mulher da vítima

PAULO, NÃO DÁ BANDEIRA, NÊGO
NÃO REVELA O SEGREDO
PRO SEU FILME NÃO QUEIMAR

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SUICÍDIO LINGUÍSTICO

A definição básica de ‘verbo’ é: palavra que designa ação. Sendo assim, uma palavra que carrega esse estado gramatical e que me mata de intriga é o verbo ‘morrer’. Se o verbo é a prática da ação pelo sujeito, a não ser que não haja um – como em chover, trovejar etc., o verbo ‘morrer’ me soa como a verbalização do suicídio. Percebe? “Ele morreu!” Ou seja, ele praticou a ação de morrer, o que me leva a concluir que ele o fez querendo.
Particularmente também não me agrada o pronome reflexivo junto ao verbo suicidar. “Ele se suicidou!” Uma pessoa só pode mesmo suicidar a si (mesma (?)), nunca suicidar outra, concorda? Bom, certamente Vladimir Herzog discordaria de mim, mas essa seria uma discussão política e não mais linguística. Prefiro dizer que uma pessoa cometeu suicídio, ou se matou, assim caracterizando a prática da ação de tirar a própria vida.
Outra curiosidade, ainda referente ao suicídio, é sobre quem consideramos suicida. Imagine a seguinte situação: alguém feliz, sem problemas familiares, sem problemas financeiros, enfim, bem resolvido com a vida, que por uma situação trágica (imagine uma bem pesada) é motivado por um impulso desesperado e tira sua própria vida. Você consideraria esta pessoa um suicida em potencial? Ele cometeu suicídio, é certo, mas seria ele um suicida, na categoria daquele que por mais de uma vez já tentou se matar e sempre está tentando, que não é bem resolvido consigo (próprio (?)), tendo motivos ou não? E agora Hamlet?Creio que a Gramática sim deva estar cheia de problemas mal resolvidos e com motivos de sobra para se suicidar a si própria e matar-se a ela mesma! Enquanto não consegue fazê-lo ela vai suicidando a língua num processo tradicional de mumificação. Falo Verissimamente que a Gramática deve apanhar todos os dias para saber quem manda!

SAUDADE

Dizem que a palavra 'saudade' só existe na língua portuguesa, em outras línguas dizemos sentir falta, assim por extenso, o que é o significado deste irreversível significante, deste desagradável vocábulo: saudade.
Pode muitas vezes apresentar-se até de forma agradável, quando sabemos que ela durará apenas um certo período, mas quando ela apresenta-se de forma eterna é que se revela a tamanha irreversibilidade da palavra, do sentimento de impotência.
Saudade, irmão. Sinto muito a sua falta. Gostaria de poder pegar o telefone agora, hoje, neste dia, 19 anos depois de ter te embalado em meus braços pela primeira vez, para dizer: E aí, Felipão?! Parabéns, irmãozinho! Feliz aniversário!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

TELE MARTÍRIO


Após passar 27 minutos e 05 segundos ao telefone com uma atendente, apenas para mudar o endereço de entrega da fatura de minha conta telefônica, escrevi este poema:

OI!
Você está VIVO?
CLARO!
Então TIM-tim
Um brinde por você ter sobrevivido a uma atendente!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

VAMOS FALAR MAIS

Um amigo de Belo Jardim - PE, Nilton Senhorinho,
que tem um blog interessante (http://vamosfalarmais.blogspot.com/) sobre a política belo jardinense, em sua maior parte, fez no blog da Tarsila um comentário com esta belíssima homenagem que eu ctrl+c e ctrl+v abaixo. Valeu Nilton, ela vai ler um dia, ficou lindo!




"Vitor,
Parabéns!!!
Deixo aqui umas palavras para vocês:


Um pinguinho de gente chegado ao mundo
Semente do futuro que hoje se planta
E a canção de ninar que pra ela ele canta
Traz um tom de amor verdadeiro e profundo

Em braços fortes que à ‘niña’ aninham
Na voz poderosa que se levanta
E faze-se pai, e faze-se criança
Contemplando, aos minutos que caminham,

O fruto inegável de uma história
Que já não escreve sozinho
E que agora está no teu ninho
Aguardando por outras da tua memória

Assim, começando com os carinhos das horas ternas
Descortina a um ser infinitas possibilidades
Preparando o caminho que, na verdade,
Irá percorrer com suas próprias pernas.

E neste momento sem igual maravilha
Acolhe em teu colo o ‘sono de paz’
- Não é ‘a Amaral’ mas, mais a amarais -
E aqui ecoamos: bem-vinda, Tarsila


Um forte abraço."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

BALANÇA FAVORÁVEL (IMPORTANTE)

Mais uma de minhas reflexões (ou reflexos) linguísticas(os).
Estava pensando no sentido da palavra ‘importante’ ao refletir sobre algumas coisas que considero importantes. Reparei que tal palavra tem o mesmo radical da palavra ‘importar’ (trazer), e ao me deparar com essa questão - talvez etimológica, talvez coincidência -, cheguei à conclusão de que o importante é o que você importa para si, é o que você traz para dentro de si. O que importa você importa.
Nada de inédito em se tratando do ser humano, ser egocêntrico, que mesmo ao propor uma coletividade o faz pensando em se promover, ao amar alguém o faz pelo prazer de se sentir bem, ao praticar um ato altruísta o faz pensando em ser beatificado.
Não falo aqui que o egocentrismo é um defeito e deva ser tratado como vilania e com vilipêndio. Não. O defeito e a vilania estão depositados na inversão do egocentrismo à categoria de demagogia. Isso sim merece vilipêndio: a autopromoção da futilidade, que não prova nada a si mesmo, só prova (ostenta) aos outros, à sociedade. A meu ver, egocentrismo pode funcionar como auto-estima, quando se propõe coletividade e se insere no bolo, quando se ama e se deixa ser amado, quando se pratica o altruísmo e sorri com o sorriso do outro. Aí se deposita o sentido de importação, ao se importar com o outro você se importa consigo mesmo, importando para si a felicidade do outro e consequentemente transmitindo-a, pois o outro é você mesmo, é um espelho, e “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Penso que se conhecer, relacionar-se consigo mesmo, respeitar a si próprio, são fatores primordiais para ser um ser equilibrado socialmente com o Eu inserido no coletivo demagógico-egocêntrico. Afinal, “eu me amo, não posso mais viver sem mim”. A balança humana favorável é o inverso da balança comercial favorável, o mais importante é importar mais do que exportar, o que se exporta e se expressa e se expõe devem ser reflexo da absorção. Isso é importante.