quinta-feira, 30 de julho de 2009

TUPI FUSÃO

Letra: Vitor Pi

VITOR PI
VIM EM TUPI
PRA ENTUPIR DE IDEIA
A CABEÇA DE TODA TRUPE
Em tupi, entupiu
Canibal deglutiu
Tio samba aglutinou
Tu que viu, viu
Quem viu, quem degustou
Gostou do que sentiu
Digeriu, arrotou
Canja de laranja, casca de galinha
Isca de polícia, farda de sardinha
A carapuça serviu
A batina caiu
Bloco carnavalesco, pitoresco Brasil
VITOR PI
VIM EM TUPI
PRA ENTUPIR DE IDEIA
A CABEÇA DE TODA TRUPE
Pintura rupestre, tinta nanquim
Índio nordeste, tupiniquim
Camisa da Levi’s e calça jeans
No lugar de flecha, bala e fuzis
Sequestro do chefe da fundação
Na mesma língua, sem confusão
Na mesma moeda, a negociação
Capital estrangeiro, pajé, capitão
Pé d’água, toró, como chovia
De português, o tupi se vestia
Se fosse no sol, tu se despia
E dispensaria a hierarquia
VITOR PI
VIM EM TUPI
PRA ENTUPIR DE IDEIA
A CABEÇA DE TODA TRUPE
No verso aversão à imposição
Servo, sou não, faço a exposição
Sobre condicionamento e catequização
Pobre estamento, mais injusta divisão
Nobres no convés e os negros no porão
Conte de um até dez e prenda a respiração
Quem controla o passado tem o futuro à mão
Conheça sua História, não durma, irmão
Fique esperto, liberto de qualquer exploração
Mais perto do certo, andar com atenção
Antropofagia pra fugir da tensão
Sardinha no cardápio pra fazer a digestão
Como não? Como sim, é apropriação
Nossa risada no fim tem mais sensação
A resistência é a própria ação
A hora da virada é a nossa sanção
VITOR PI
VIM EM TUPI
PRA ENTUPIR DE IDEIA
A CABEÇA DE TODA TRUPE
Vitor Pi, vim em tupi, pra entupir de ideia a cabeça de toda trupe
Vitor Pi, versão tupi, pra entupir de ideia a cabeça de toda trupe

A célula desta letra surge numa certa madrugada quando eu pulo da cama com os versos do refrão martelando minha cabeça, levanto para anotá-los e posteriormente fazê-los martelar a cabeça de toda trupe. A letra em si é um aglomerado de situações que nos fazem Brasil, os sincretismos racial e cultural da miscigenação índio, preto e branco, e como a colonização se moderniza a cada dia. Situações que dirigem a temática do disco como um todo, então essa música vem logo como uma porrada depois da faixa de introdução para apresentar o que vai ser a obra. Há nesta letra, na terceira estrofe, um verso (quem controla o passado tem o futuro à mão) que é uma referência à obra 1984, de autoria de George Orwell, nessa obra ele diz que "quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado". Há também uma referência (uma deglutição) a um poema de Oswald de Andrade intitulado “Erro de português”, no final da segunda estrofe, observem. Eis o poema:
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

4 comentários:

  1. Agora eu botei uma fé. Multiplique-se.

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  2. o endereço do meu é www.tacowa.blogspot.com

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  3. E ae Pirralho :)
    acho essa letra irada e a música tbm...valeu :**

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  4. Oi Vitor! Marcelo me apresentou seu mais novo trabalho e confesso que me surpreendi! Infelizmente não se divulga muito as coisas boas alagoanas, já as más... =) bom, mas deixo aqui registrado minha admiração por seu trabalho inteligentíssimo, de bom gosto e de uma sacada literária-estilística maravilhosa! Massa demais saber que vc é meu conterrâneo! hehehehe estou nas paradas divulgando seu trabalho com carinho!

    Um grande abraço,

    Helen ( Heleniza ou ainda Lene como me chamam em Maceió :)

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