quinta-feira, 30 de julho de 2009

EXTINÇÃO ABUNDANTE (CADEIA ALIMENTAR)

Letra: Vitor Pi

EXTINÇÃO ABUNDANTE
FARTURA, MUITO POUCO
QUEM FATURA MUITO POUCO
VIVE NO MONTE
AOS MONTES NO MORRO
MORRE-NÃO-MORRE
FICA OU CORRE?
EU CORRO!/SOCORRO!
Corro do socorro, faço minha correria
Mato a grito cachorro e um leão por dia
A fauna financeira corre risco de extinção
Ecologia desequilibrada no bolso do cidadão
Cueca de empresário, pasta de pastor
O financeiro em cativeiro não é reprodutor
Monopólio monetário, título: doutor
Não traz mais amor nenhum beija-flor
Só o melzinho é o que ele suga
Chega de mansinho igual tartaruga
Há 500 anos sempre em fuga
Tanto tempo no cargo, já criou ruga
A carapuça cai como luva
A carapaça vai sempre dura
Na leveza e graça de uma garça
Percebe-se que nada vem de graça
Quanto mais batalha a recompensa é mais rara
É pra virar fera, pra ficar uma arara
Trabalho noite e dia e ainda faço bico
Pra ganhar 20 conto às vezes pago mico
Mas se for pra encher a pança
Aí eu sou até amigo da onça
Tenho que dar conta quando chego em casa
Para alimentar cinco bocas
Quando o apurado é só uma piaba
Tenho que transformá-la em garoupa
E se vacilar? O jacaré abraça
Aí você fica de touca
EXTINÇÃO ABUNDANTE
FARTURA, MUITO POUCO
QUEM FATURA MUITO POUCO
VIVE NO MONTE
AOS MONTES NO MORRO
MORRE-NÃO-MORRE
FICA OU CORRE?
EU CORRO!/SOCORRO!
Corro do socorro, faço minha correria
Pra poder botar na mesa o feijão nosso de cada dia
Assando e comendo, comendo o que me sobra
Leite de pedra, pau pra toda obra
Moro aglomerado num moquiço do cortiço
Casa de pombo, de rato e outros bichos
Trabalho num zoológico: na portaria do edifício
Bichos exóticos, peruas e suínos
Controlo a entrada e a saída
E também o horário de visita
Meio dia, entrega da comida
Lavagem para os porcos, pros abutres a carniça
Pras hienas de botox, sempre sorridentes
Caras esticadas a mostrar os dentes
Contentes com os restos da lavagem
Lavagem financeira que garante a imagem
Um dia decidi não ser mais cúmplice de tudo
Decidi falar e não ficar mudo
Voz pronunciada, voz de assalto
O preço que paguei foi um tanto alto
Aquele dinheiro espalhado pelo chão
Não caiu do céu, caiu da minha mão
Dinheiro sujo, sujo de sangue
Espécies se extinguem, outras se expandem
EXTINÇÃO ABUNDANTE
FARTURA, MUITO POUCO
QUEM FATURA MUITO POUCO
VIVE NO MONTE
AOS MONTES NO MORRO
MORRE-NÃO-MORRE
FICA OU CORRE?
EU CORRO!/SOCORRO!
Na cadeia alimentar
É assim que funciona
O mais alto patamar
Permite que se coma
Manter-se em nível inferior
É certeza de tornar-se vítima do predador
Lei da natureza, da natureza humana
O globo cada vez mais aquece
Então vê se não esquece
É quente, não desanda
A minha parte eu quero em espécie
EXTINÇÃO ABUNDANTE
FARTURA, MUITO POUCO
QUEM FATURA MUITO POUCO
VIVE NO MONTE
AOS MONTES NO MORRO
MORRE-NÃO-MORRE
FICA OU CORRE?
EU CORRO!/SOCORRO!
Na cadeia alimentar há
Uma reação em cadeia elementar

Nesta letra vamos encontrar uma abordagem de aspectos mais urbanos, desigualdade social, a correria do dia-a-dia do cidadão que vive assando e comendo, como se diz no dito popular. Apesar da letra falar muito em extinção de várias espécies, essa fauna que eu abordo aqui é a fauna financeira. Nossas cédulas têm, cada uma, um exemplar de nossa fauna: R$1 beija-flor, R$2 tartaruga-marinha, R$5 garça, R$10 arara, R$20 mico-leão dourado, R$50 onça-pintada, R$100 garoupa. E essa fauna está em extinção no bolso do cidadão comum, levando-o muitas vezes a partir para o desespero. Eu tenho uma tatuagem que contém todas essas espécies, essa letra resume o significado dessa tatuagem pra mim, o porquê de ter feito ela. A exemplo do disco anterior, a música “O palhaço” resume também uma outra tatuagem minha.

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