quinta-feira, 30 de julho de 2009

DIVÓRCIO

Letra: Vitor Pi e Beto Brito

Me casei com uma gringa chegada ao Brasil
Aprendeu minha língua, logo descobriu
Que o nativo da ginga era vadio
E se evadiu, se evadiu
Abriu do negócio, partiu
Pediu o divórcio, sumiu
Com mais de mil, ninguém viu
E eu no meu ócio, viril
Com mais de mil produções
Ócio do ofício, paixões
Uma em cada parte do mundo
Viajante que vaga, um vagabundo
À procura de mais uma dama
Que eu possa levar para a cama
Aumentando, assim, minha fama
Oh, meu amor, diz que me ama
Ô, COISA BOA, QUEBRAR O PADRÃO
VIVER SEM PATROA, SER O PATRÃO
VIVER À TOA, AMOR PAGÃO
LEALDADE, SIM; FIDELIDADE, NÃO
Tu quebra o quadril, tu quebra o quadril
Mas não quebra tão bem quanto no Brasil
Carnaval, futebol, ritmo-fusão
O Brasil é rei, sempre campeão
Com você foi paixão à primeira ouvida
Mas meu amor é de forma promíscua
Te dou a moral de ser oficial
Mas minhas negas, cadeira cativa
Você não me entende
Mas vou explicar
Quando chego no samba
Logo salta ao olhar
Pois boêmio que é bamba
Não suporta ficar
Com uma só dama
Toda noite a dançar
Eu te digo a verdade
Pode acreditar
Só passeio com outras
Com você vou ficar
Tenho identidade
Então posso falar
Vou mesclando as raças
Minha ginga é o que há
Ô, COISA BOA, QUEBRAR O PADRÃO
VIVER SEM PATROA, SER O PATRÃO
VIVER À TOA, AMOR PAGÃO
LEALDADE, SIM; FIDELIDADE, NÃO

É bem verdade que minha mulher não ficou nada feliz com esta letra, mas explicarei aqui o que já a expliquei (e que mesmo assim não foi muito bem digerido por ela). O divórcio aqui proposto é com a unilateralidade artística. Geralmente o que acontece é que o artista prende-se exclusivamente ao seu tipo de arte e não enxerga além do seu próprio horizonte, é uma espécie de antolhos artísticos. Aqui eu proponho um divórcio com o rap, pois eu quero imprimir mistura, miscigenação (eis a proposta do disco), flertar com outras vertentes musicais, inclusive essa música vai até numa levada samba para quebrar o padrão. Apresento agora, através dos próprios versos desta letra, indícios dessa intenção: quando digo que casei com uma gringa, essa gringa é o rap, pois é a veia principal da minha música, chego até a declarar que quando conheci o rap foi paixão à primeira ouvida, mas quando ele descobre que eu quero flertar com outras vertentes logo pede o divórcio, porque percebe que eu não quero ter uma monogamia artística. Posso até ser leal, mas nunca fiel, não sou artista de um único estilo, por isso digo que dou ao rap a moral de ser oficial, mas minhas negas (outros estilos) terão sempre cadeira cativa em minha produção. É a Antropofagia que vem desde o primeiro disco sendo exaltada, aqui mais veementemente. Quando digo “tu quebra o quadril, mas não quebra tão bem quanto no Brasil”, quer dizer o seguinte: a expressão hip hop significa quebra de quadril, por causa da dança urbana, mas esse quadril não (re)quebra tão bem quanto o nosso samba que direto da senzala explode o mundo em devaneios artísticos. Ou seja, todos os momentos da letra que falam em mulher leiam-se estilos, ritmos, outras vertentes que não o rap. E na parceria da composição, Beto Brito fecha tal intenção: “Só passeio com outras, com você vou ficar, tenho identidade, então posso falar, vou mesclando as raças, minha ginga é o que há”.

Um comentário:

  1. hum!achei massa essa letra, quando cheguei em casa fui logo procurar. de primeira, não saquei o sentido segundo (ou primário) da música. massa! adorei!
    prima Maíra

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