quinta-feira, 30 de julho de 2009

CARNE E AVAL

Letra: Vitor Pi

O sabadão se revela
Chega Zé Pereira de caravela
“terra à vista, acende uma vela
pagamos à vista o preço desta terra”
100% de desconto no conto do vigário
De um a outro ponto já vão 5 centenários
“sois cristão?” o Zé Pereira preguntou
Mim, não! O guarani retrucou
“não sois cristão?” o Zé Pereira se espantou
“então, sois pagão” o Zé Pereira emendou
Pagão, pagador
Salvação, salvador
Dali pra aqui, de lá pra cá
Quem vai salvar? Quem vai pagar?
Em vão, devedor
São Tupi, errou
Divindade dali, pajelança de cá
Tupã, candomblé, babalorixá
Liberdade e libertinagem, vamos confundir
Vamos comer carne e todo o mundo fundir
Hmmm... jejum, passo mal
Você tem a carne e eu tenho o aval. Carnaval!
TERERÊ TETÊ QUIZÁ QUIZÁ QUECÊ!
CANHEM BABÁ CANHEM BABÁ CUM CUM!
TERERÊ TETÊ QUIZÁ QUIZÁ QUECÊ!
E FIZERAM O CARNAVAL, CARNELEVARIUM
A quarta-feira é de cinzas
Então pisa que desaparece
Aos desavisados avisa
O povo visa que o ano comece
No meio da folia aparece
Quase tudo
Quase nua, qualquer rua
Carne vale, pleno entrudo
Mudo quando vou pro cume
No perfume que é lançado
No estado alterado
Pra bem alto rume
“contrariando a vontade de deus
este povo pagão está fadado aos seus
mundanos costumes
achando-se imunes
pecadores, imundos plebeus”
Silvícola ateu?
Bebo o sangue de Cristo
Minha tribo sou eu!
Como a carne do bispo em posta
Proposta que o diabo gosta
Encosta e canta:
Aleluia! A semana é santa
TERERÊ TETÊ QUIZÁ QUIZÁ QUECÊ!
CANHEM BABÁ CANHEM BABÁ CUM CUM!
TERERÊ TETÊ QUIZÁ QUIZÁ QUECÊ!
E FIZERAM O CARNAVAL, CARNELEVARIUM

Mais uma vez apresento, através desta, a mistureba que é o Brasil e como o povo brasileiro consegue de situações adversas fazer festa. Pesquisando sobre a origem do carnaval (como bom brasileiro que sou, minha festa preferida no ano) me deparo com o que, na verdade, já sabia, festa de cunho religioso e dissimulada folcloricamente pelo povo. Carnelevarium, expressão que em latim quer dizer carne vale, a época que é liberado o consumo de carne para depois de uma quarentena jejuar e pedir perdão pelos pecados numa semana declarada santa. Assim é o Brasil, vamos fazer festa que amanhã a gente se vira, deus proverá, livrai-nos do mal, amém. E o homem segue crendo na criação divina, enquanto o divino segue criação humana. Ao longo da História, sopro inerente e hereditário de esperança. Além dessa pesquisa, de fundamental importância nesta composição foi o poema de Oswald de Andrade (mais uma vez em meu aparelho digestivo) chamado “brasil”. Eis o poema:
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval

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